25 de Outubro 2007
Aproxima-se o dia da partida e, entre greves e desconvocações de greves, aqui estou eu sem saber se vou ou não voar na próxima madrugada.
Parece mentira mas é verdade! Já telefonei meia dúzia de vezes para a TAP e, ora obtenho informações que o voo vai operar, ora me dizem que está cancelado. Enfim, está visto que tenho que me stressar até ao último minuto :(
Hoje passei o dia a tratar dos últimos pormenores e a tentar tirar 5kg da mala do porão e 3kg da mala de mão (já que ambas têm mais peso do que o permitido).
Ao fim da tarde, a despedida foi intensa mas aparentemente suave. Era o pretendido, visto não me ajudar em nada começar com choros e promessas :P Para dizer a verdade, de início, nunca pensei que uma despedida deste tipo pudesse ser tão “soft” porque todos nós sabíamos que não seriam apenas uns diazinhos mas, por outro lado, já estávamos a mentalizar-nos há mais de 1 ano.
Para a minha última refeição em Portugal (este ano, espero eu…), escolhi uma pizzaria em Olhão e desfrutei de um bom momento a dois. Consegui saborear a comida enquanto me mentalizava que a contagem decrescente já começara…
Por fim, já em casa, passei as últimas horas entre palavras, pensamentos e sonhos…
26 de Outubro 2007 / 27 de Outubro 2007
De madrugada cheguei ao Aeroporto de Faro. Como tinha acabado de acordar de 2 ou 3 horas de sono e ainda estava meio dormente, a segunda despedida correu ainda melhor que a primeira :)
O meu cérebro processou um simples adeus. Como se isto fizesse algum sentido e fosse assim tão simples! Bom, o que é certo é que o meu sentimento também foi esse e, ao fim ao cabo, trata-se de um “até já” e “mai” nada!
Os voos Faro – Lisboa e Lisboa – Londres foram uma canseira porque, entre check-ins e mudanças de avião, não consegui dormir mais de 2h. Para ajudar à festa, não me deram qualquer comida ou bebida nestes 2 voos, o que fez com que ficasse com um aspecto cadavérico no final da manhã… Como estava a contar com uma pequena refeição, quer no primeiro voo quer no segundo, acabei por não pôr nada no estomago. Já tinha viajado anteriormente de Faro para Lisboa pela TAP e tinha-me sido dado um bolo e um copo de sumo mas, desta vez não tive a mesma sorte, vai-se lá saber porquê…E na BA, de Lisboa para Londres, não consigui compreender o que se passou porque o voo é bem maior e não se trata de uma companhia Low Cost.
Quando finalmente aterro em Londres, onde fiz a escala seguinte, lembrei-me que continuava sem libras e em nenhuma loja me deixaram usar o cartão para pagar uma água e uma sandes. Foi duro! Já depois de desistir, atravessei o Aeroporto de Heathow do Terminal 1 para o 3 e, em estado vegetal, esperei uma hora pelo avião seguinte, que me levou para Hong Kong.
A viagem correu lindamente! A primeira coisa que fiz foi descalçar-me, a segunda “esmifrar” a refeição asiática que me estava destinada e a terceira dormir até à aterragem. ;)
12 horas depois estava aparentemente nova mas, quando decidi mexer mais que a cabeça, senti que o meu corpo já não me pertencia pois estava frio, completamente adormecido e moldado ao assento.
Mais uma vez, e em tempo record, descobri a gate número 63 onde viria a embarcar, minutos mais tarde, no meu ÚLTIMO VOO. O Aeroporto de Hong Kong pareceu-me ainda maior do que o de Heathow, em Londres mas, provavelmente, porque as minhas pernas não respondiam às minhas ordens e apesar de eu querer andar rápido, elas não queriam!
No último voo, fiquei sentada ao lado se um rapaz holandês. Conversámos bastante e foi pena ter-me deixado dormir a meio de algumas das nossas conversas :( Pelo que me lembro, ia para Sydney sozinho uma semana, fazer formação em trabalho com tudo pago. Ficou espantado com a minha coragem e determinação mas principalmente com a minha idade (pensou em 20 ou 22 anos). A princípio perguntou-me se estava a brincar com ele. lol Não sei porquê?! E nem lhe falei em viagens concretamente…
Passadas outras 12 horas, e já com mais tres refeições asiáticas no “buxo”, comecei a sentir um nervoso miudinho. Levantei-me e, depois de ir à casa de banho, constatei que estava tudo ok, apenas tive uma ligeira dor de barriga devido ao excesso de refeições asiáticas :))
Ao aterrar, só pensava no tempo, sim no tempo! Foram 40 horas perdidas da minha vida (30 horas de avião mais 10 horas que tive que somar devido à diferença horária), passadas dentro de aviões sem que algo de produtivo tivesse acontecido. O meu corpo estava atrofiado e deformado e, como se isso não bastasse, só me invadia outro pensamento, o de conhecer a minha cama e dormir em vez de conhecer a minha nova família.
Enquanto percorria a manga que ligava o avião ao aeroporto, senti um novo cheiro. O cheio a oriente! Definitivamente, este lado do mundo atrai-me e, apesar do cheiro não ser tão intenso como na Ásia propriamente dita, voltou a fazer-me vibrar e a provocar um efeito diferente na minha pessoa. Senti-me como se tivesse levado uma injecção de tranquilizante!hehehe... Também fui absorvida por uma data de pensamentos e sensações devido ao facto de aterrar sozinha, num lugar completamente novo e do outro lado do planeta!
Senti-me bem, muito orgulhosa e cada vez mais convicta do quanto é importante fazer-se, pelo menos uma vez na vida, uma viagem sozinha, onde ninguém conhecido está ao nosso lado e onde cada minuto depende exclusivamente de nós.
Mais uma vez, a conclusão a que chego é a seguinte: quanto mais ideias malucas tenho e concretizo, mais feliz sou! E é tão importante ser feliz…
Depois de meia hora a divagar, enquanto esperava pelo carimbo no passaporte, e de outra meia hora à espera da bagagem do porão esperava-me, por fim, a minuciosa e rígida passagem pelas máquinas de raioX! Para meu espanto, apesar de não me abrirem qualquer mala, o cãozinho não parou de cheirar a minha mochila de mão. Se ao menos tivesse trazido biscoitos de chocolate?! À minha volta o panorama era bem diferente, malas abertas por todo o lado e muita gente sem conseguir falar o inglês correcto, de modo a que os seguranças percebessem o porquê de determinadas coisas nas bagagens.
No aeroporto vê-se por todo o lado painéis com a informação de que não se pode entrar no país com comidas, bebidas, animais, plantas ou sementes e está muito bem explicito que as regras são para cumprir pois em alguns casos os preço das multas são inacreditáveis. Se há coisa que me incomodou foi: primeiro - o facto das pessoas não lerem e não conhecerem as leis do país que visitam e segundo - não verem ou não quererem ver o que têm mesmo à frente do olhos. Fazem o que lhes apetece e depois acabam por ter uma má experiência logo à chegada. Enfim…lembrou-me logo o típico “tuga”, a única diferença é que, aparentemente, não havia nenhum por perto.
À saída do aeroporto, como não encontrei ninguém da escola, decidi trocar 300 euros por alguns dólares australianos, de modo a garantir a minha sobrevivência a partir daquele momento. Pouco tempo depois, encontrei um senhor com a placa da EF que fez logo questão de se apresentar e de me levar as malas. Falámos durante algum tempo. O senhor era muito simpático e cómico, fartei-me de rir com ele :) Quem diria… recém chegada e logo a rir das piadas do primeiro australiano que me apareceu à frente! Heheheh… não sei o que me deu! lol
Com um mapa de Sydney na mão e uma convocatória para me apresentar na escola às 9h da manhã de segunda-feira, segui viagem com destino a Padstow (na parte sul da cidade de Sydney) onde, por volta das 22h, conheci a minha casa para os próximos 8 meses (ou não…lol).
Quando saí do carro nem queria acreditar! Vi pelo menos umas 5 cabeças a espreitar pela janela. Se tinha indicação que o casal que me ia receber era jovem e sem filhos, quem viriam a ser aqueles seres todos?!
Momentos depois, pude constatar facilmente que me encontrava na habitação de um jovem casal de Filipinos e que iria conviver, para além deles, com mais 9 asiáticos, 1 mexicana e 1 espanhola nos próximos 8 meses. Ou seja, estou numa homestay rodeada por todo o tipo de produtos de origem asiática que vocês possam imaginar, comestíveis e não comestíveis. As estudantes mexicana e espanhola não conseguiram superar as grandes diferenças entre as suas culturas e as culturas asiáticas e, por isso, começaram a passar a maior parte do tempo noutras homestays.
Depois de uma hora a conhecer a minha nova casa, a tentar absorver regras e a tentar fixar, pelo menos, os nomes do casal (Francine e Ero) comecei a sentir-me em casa! Não foi fácil quando, mais uma vez, nos dão 20 aninhos e depois levam um “balde de água fria” ao se apercebem que sou a pessoa menos jovem do grupo…
Em relação à Francine e ao Ero, eles moram noutra habitação próxima e apenas aparece 1 vez por dia para ver se as coisas estão bem e para nos trazerem o jantar (já feito). lol A regra principal é jantarmos todos juntos, já que na escola cada um tem um objectivo e grau de aprendizagem diferente. Se tivermos algum problema falamos com o líder da casa (que ainda não sei o nome mas é o único asiático com óculos) ou com o nosso orientador na escola.
Como o processo do meu visto foi muito demorado, tal como o da minha colega de quarto (Huong Ngoc Quach, de nacionalidade vietnamita) estes 9 estudantes começaram as aulas há 1 mês e a Huong há 1 semana mas, vão terminar na mesma altura que eu. A única diferença consiste em me permitirem mais 1 mês para férias no final :) :) Que chatice...
Não consegui fixar mais que o nome da minha colega de quarto e o nome do casal anfitrião. Depois de tantas horas sem exercitar o cérebro acho que o melhor que tenho a fazer é dormir!
Amanhã se verá o que acontece…
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário