sexta-feira, janeiro 11

O regresso à rotina

O regresso à escola – Segunda-feira, dia 7 de Janeiro de 2008

Acordei às 6:30 da manhã para poder apanhar o comboio às 7h e estar na escola às 8:30h. À medida que o comboio andava, mais eu pensava na situação em que me encontrava. Das duas uma: ou me arranjam uma casa e uma familia com as características que me prometeram ou vou ter que tomar uma atitude, seja ela qual for. Isto não é justo!

Primeira boa notícia do dia: como tive 66% no exame feito antes das férias de natal, mudaram-me de nível, do C para o D. Hoje de manhã recebi um novo horário e já posso, com este nível, comecar a pensar em inscrever-me nas cadeiras académicas :)

Segunda boa notícia do dia: falei com o “ser” que trata das acomodações pela 100ª vez (1ª este ano) expliquei-lhe a situação e, no fim do dia, fui visitar uma nova família.

Para meu espanto, no meio de tanto azar, encontrei a família de sonho! Vou mudar para a melhor família que a escola conseguiu até hoje. Uma família australiana relativamente nova com uma bebé de um ano e pouco, ambos muito simpático, com a mente aberta, com um inglês fabuloso, muito interessados em comunicar e conhecer pessoas novas e com uma excelente casa, ou melhor, com palácio!

Debaixo da pior pedra sai o melhor lagarto!

Vou mudar-me já no próximo fim-de-semana para a zona mais luxuosa da cidade e a apenas 20/30 minutos de comboio da minha escola.

Da casa, com um bonito jardim e piscina, posso ver campos de golfe, parques/jardins, baías, praias, muitos restaurantes e bares, e muitas pessoas diariamente a desfrutar desta preciosa reserva natural que abrange uma área considerável.

Estou maravilhada…

Para além disto tudo, vou ficar instalada num quarto duplo com uma estudante alemã, onde temos televisão, internet, ar-condicionado, bons armários, grandes janelas e muito espaço.

Tenho que arranjar tempo e maneira de aproveitar todas estas coisas depois de terminar as aulas e, proximamente, o trabalho.

Estou pensando seriamente em comprar uma bicicleta baratucha…

De volta à Australia!

De volta à Austrália, cheia de força e de vontade! Mais um ano com muitos objectivos para realizar…

De mapa na mão, pus-me a caminho da minha nova casa.

...

É impressionante constatar que não tenho tido sorte nenhuma! Raios me partam!

Estou a sentir-me tão mal, mas tão mal, que só me apetece é chorar. Proponho-me eu a enfrentar um desafio destes, o de vir para tão longe sozinha com o objectivo de aprender umas coisas e dar a conhecer outras e, no fim, estou a começar o ano da maneira mais infeliz que podia começar, já viram isto?

A minha cabeça, neste momento, está a mil à hora. Só consigo pensar numa saída, o meu “amigo” Vítor que, por sinal, não me atende o telefone :( Ele mora em Sydney e sempre me ofereceu casa e ajuda. Hoje aceitaria sem hesitar :/

Sorry, vou explicar…

Desde que aterrei no aeroporto de Sydney, por volta das 11:20h, que o calor abrasador me persegue. Com a bagagem bem pesada e de comboio em comboio, cheguei a Doonside lá para as 15h, um subúrbio desta gigantesca cidade. Depois de andar meia hora fui ter a uma morada errada e, quase a desistir, consegui encontrar a minha futura casa para os próximos 6 meses (pensava eu).

Ao bater à porta, apareceram-me logo 3 putos que nem olá me disseram. Olharam para a esquerda e deram a entender que era ali o meu quarto, um cubículo de 9 metros quadrados, onde a minha cama estava encaixada com a da minha colega (tipo puzzel), como se de uma cama de casal se tratasse. Para ajudar à festa, a casa ainda consegue atingir uma temperatura mais elevada do que a rua, as divisões são todas minúsculas, sujas e desarrumadas, principalmente a casa de banho e a cozinha, o que proporciona o paraíso para uns tais bichinhos chamados baratas.

Ou seja, pelo que entendi, estou à mercê de 3 putos que passam todo o dia aos berros a jogar jogos no computador. A mãe, depois de lhes perguntar 2 ou 3 vezes, percebi que não aparece tão cedo e nem sabem quando vem porque trabalha sempre que aparece uma oportunidade. Perguntei pelos lençóis da cama e por comida, encolheram os ombros.

Não sei mesmo o que faça à minha vida…

Esta nova familia, de origem filipina, mora na Australia ha aproximadamente 3 anos e nao fala o ingles correctamente.

Umas 6 horas depois…

Deitada na minha pseudo cama, depois de um banho tomado e de enfiar uma roupa bem fresca (ao contrário da que trazia vestida do Japão há aproximadamente 30h, porque o meu voo foi à noite e eu tive que fazer o check-out por volta das 10 da manhã na pousada), acabei por adormecer. Estava exausta e triste.

Por volta das 21h fui acordada pela mãe dos putos, Marie, que me disse, de modo pouco meigo, para eu ir comer que o jantar estava na mesa. Nem bom dia nem boa tarde…

Ao fim de uns minutos, e ainda meio apática, comecei a convencer-me de que a senhora não é má pessoa e que, para ela, oferece-nos o melhor que tem e que pode.

Com a conversa à hora do jantar fiquei ainda mais confusa e perturbada, o que vale é que eu quando tenho problemas, se me deito, é fácil adormecer e assim, não penso mais no assunto.

Assim foi…

Shin-osaka, a despedida...

É interessante apercebermo-nos de que já não fazemos figuras quando nos temos de despedir. Está bem, não sabemos quando nos vamos voltar a encontrar, talvez daqui por 6 meses ou daqui por 1 ano mas, seja como for, de que adianta stress, choro, promessas ou uma cena à filme com grandes beijos e abraços?!

Acho que a nossa atitude mudou de há uns tempos para cá. Faz todo o sentido! Não nos conhecemos ontem…

Vamos esperar para ver. Acho que vai doer e muito. Agora é tudo fácil de pensar, de dizer e de escrever…


Como o meu voo foi só às 21h, passei o dia todo sozinha em Kyoto :)

Até à hora do almoço, deambulei pela cidade e comprei 2 talismãs, coisa que queria fazer antes de voltar à Austrália. Nos dias que se sucederam à passagem do ano começou, na minha cabeça, a fazer sentido comprar talismãs para me acompanharem e protegerem neste novo ano.


À tarde, estive na pousada a ler informação sobre minha nova casa, a estudar o mapa e a arrumar o resto das coisas. Para minha sorte ou azar, fui logo apanhar uma conferência de políticos na sala de estar e tive de gramar com o discurso em japonês. E depois? Com os comes e bebes! De início estava a irritar-me mas, quando todos já tinham um copo a mais, até foi giro ;)


Quase no fim da festa vieram-me elogiar por ter estado ali todo o tempo com tanto barulho e ofereceram-me comida e bebida. LOL Mesmo à japa! Tanta coisa, tanta coisa para depois nem me deixarem ir apanhar o avião, primeiro que me conseguisse safar…


Já no aeroporto, depois de uma horinha de comboio, o check-in correu bem e, em menos de uma hora, estava dentro do avião com destino à Australia.

Hoje já não me enganaram, comprei um GRANDE e requintado farnel! Até fiz inveja aos seres superiores que tinham pago antecipadamente a comida de avião :D Comprei sushi, agua e algumas goluseimas. O sushi estava divinal, como sempre.


ADORO SUSHIIIII!!


Escala em Brisbane, 2h de paragem para limparem o avião. Escusado será dizer que tive de passar todo o controle e raio X outra vez mas, como ainda estava a dormir não me custou nada… e, por volta das 11h australianas (9h japonesas), estava outra vez em território australiano, mas em Sydney.

As diferenças depressa se fazeram notar. Tenho saudades do Japão… Tenho saudades das pessoas, dos cheiros, da comida, das paisagens, do clima, da lingua, de tudo! É o país mais organizado e seguro onde já estive!



Kyoto - Shin-osaka

Mais uma vez, por um minuto não perdemos o comboio! Gente por todo o lado e com 20 quilos às costas é sempre mais difícil do que parece.

No meio de alguns azares, temos de admitir que também tivemos muitas alturas de sorte e, não sei como, esquecemo-nos rapidamente, como se não se tivesse passado nada.

Ao início da tarde, instalamo-nos no mesmo hostel onde estivemos nas duas primeiras noites desta viagem. Já conhecíamos os cantos à casa e, por isso, não perdemos tempo nenhum.

Para o jantar de despedida, decidimos ir ao mesmo sushi bar que tinhamos estado quando chegámos ao Japão. Fizemos amizade com o senhor e no fim, já com a barriga cheia de sushi, ainda nos ofereceu uma garrafa de sakê que tivemos de beber quase de penalti. Um sakê um pouco diferente, até fazia lembrar champanhe mas, ao mesmo tempo, era impossível esquecer a percentagem de álcool, só de se cheirar a bebida até se ficava tonto. Heheh...

Finalizámos o jantar com um novo record: 22 pratos, ou seja, 44 peças de sushi! Foi duro mas o sakê ajudou a empurrar a comida…ou foi a comida que ajudou a empurrar o sakê?!

Fotografias de Kyoto