Dia 26 - 9 Julho 2007
A 3ª noite consecutiva num comboio correu pior do que o esperado. Falávamos nos comboios moldavos! Ahhhh... Para terem uma ideia ficámos num compartimento com 6 camas, todas elas ocupadas (nós duas e 4 teenagers inconscientes romenas). As janelas estavam seladas, lá conseguimos abrir 20 cm de uma a meio da viagem.
A temperatura para estes lados está acima dos 40 graus centígrados e no comboio não passava uma brisa.
No guia da Lonely Planet diz que quem apanha este comboio tem a sensação que se fosse a pé chegava primeiro, e é uma verdade! Durante a maior parte da viagem, o comboio manteve o mesmo ritmo, ou seja, quase parado, e nós a sufocar dentro de 4 paredes.
Apesar de serem 19 horas de trajecto, parámos em 4 fronteiras (saída da Roménia, entrada na Bulgária, saida da Bulgária e entrada na Turquia) e perdemos cerca de 5h. Não! Voces não estão a imaginar o sofrimento que foi, de hora a hora tínhamos de mostrar os documentos, ora o passaporte, ora o bilhete de inter-rail. E na última fronteira, por volta das 4 da manhã, acordaram-nos e tivemos que sair do comboio e ir para um edificio onde comprámos o visto e nos puseram o 3º carimbo desta viagem no passaporte. Estava muito calor e os mosquitos aproveitaram o nosso sangue quente para se alimentarem. Não há Tabard que resista! :(
Como somos gajas rijas, e já temos calo nestas andanças, chegamos a Istambul mais ou menos frescas, ou seja, com capacidade física e mental suficiente para fazer frente aos vendedores e aos carteiristas.
Apesar de algumas pessoas defenderem que a Turquia não é um pais muçulmano (principalmente os turcos, provavelmente por quererem entrar na Comunidade Europeia), quando se chega a Istambul, a realidade é completamente diferente de todos os paises por onde passámos anteriormente. Uma vez na Turquia, não demora muito tempo até que se comecem a ouvir as rezas ao altifalante de 4 em 4 horas e de mesquita em mesquita. Aqui, o Islamismo está presente. A existência de um número muito elevado de mesquitas e a maneira como os locais se comportam quando se aproxima a hora da reza, comprova o poder da cultura destes povos tão distantes mas, ao mesmo tempo, tão próximos de nós. Em qualquer estabelecimento pára tudo (o trabalho, a música, a refeição, a conversa), para dar lugar a uns minutos sagrados.
Quando estive em Marrocos, apesar do país ser completamente diferente, também pude assistir às 4 ou 5 rezas diárias e, era bem evidente que, a essas horas, tudo parava (mesmo os que não rezavam, respeitavam o momento).
A chegada foi tranquila, penso já conseguir dominar relativamente bem algumas complicações que surjam :)
Acompanhadas ainda pelas 4 romenas, fomos todas a uma casa de câmbio perto da estação onde trocámos 200 euros para libras turcas.
Ainda não me tinha assustado a sério mas, quando a policia turca, na fronteira da Bulgária com a Turquia, nos perguntou se tínhamos dinheiro connosco eu vacilei!! Não sei se têm noção mas, quando viajo assim, costumo levar comigo entre 1000 e 1500 euros em dinheiro. O que aconteceu foi que eu disse ao policia que não tínhamos nada e ele acreditou. Houve muito boa gente que teve que deixar 21% retido na fronteira :(
Já com libras turcas, com menos 200 euros e com um mapa de Istambul (dado por uma senhora muito simpática que se encontrava de servico nas informações turísticas), demos à sola e fomos procurar hostel. Escolhemos um na zona histórica, onde há resmas de jovens e muita animação nocturna. Hehehehe...
A cidade de Istambul e dividida por um rio onde, de um lado, e denominado Istambul Asiático e, do outro, Istambul Europeu.
O Sultan Hostel, que vai ser a nossa casa durante os próximos 3 dias e localiza-se no lado europeu. É novo, muito limpo, com uma esplanada no terraço e um bar/restaurante na entrada, o que pensávamos ser um milagre para estas paragens. Partilhámos o quarto com 2 irmãos irlandeses muito bem dispostos :)
Estamos certas que fizemos esta viagem na melhor altura porque está a surgir um boom de guesthouses e hostels novos em quase todas as cidade do mundo e nós estamos a experimentá-los enquanto são novos. :) Ainda não ficámos em maus hostels e estou convicta que não vamos ficar, porque a era das pensões já foi!!
Como nós temos bicho carpinteiro, depois de comermos qualquer coisa que ainda nos tinha sobrado, partimos em direcção ao Topkapi Palace onde visitámos o Jardim e o Harém. Ambos muito interessantes mas muito pouco restaurados também, confesso que não é o meu tipo de arquitectura!
Com o sol fortíssimo e muitos turistas, na sua maioria japoneses e coreanos, conseguimos andar sem stress e visitar tudo o que tínhamos direito.
E impossivel tirar poucas fotografias e, ainda por cima, com duas máquinas! Posto isto, aproveitámos para procurar a zona da cidade destinada apenas a material electrónico, onde comprámos um cartão de 4 GB (eu) e outro de 2 GB (Vera). Apesar de estar cansada, ainda tive fôlego para regatear o preço dos cartões, o que fez com que acabássemos por fazer uma bela compra. Espero que não se avariem antes de chegarmos a Portugal :)
O pôr-do-sol rapidamente chegou e, depois de mandarmos uns postalinhos, fizeram-se horas de jantar.
Eu já disse que neste pais quero provar o máximo da gastronomia local e aprender alguma coisa sobre como utilizar os condimentos :)
No terraço do nosso hostel, pedimos uma caneca de cerveja de 0.5l para cada uma e acompanhámo-la com um prato típico desta zona da Turquia. A Vera comeu um Chicken Curry e eu um Chicken Grill, ambos acompanhados com pão turco.
Já com uma certa leveza, dormimos um sono descansado. Heheheh...
Dia 27 - 10 Julho 2007
Os nossos companheiros de quarto estiveram na night até às 5 ou 6 da manhã, não admira que só se tenham arrancado da cama por volta das 4 horas da tarde. :) Eles são engraçados porque nós usamos a manhã para visitar a cidade e eles, quando acordam, perguntam-nos o que visitámos e, fazem um terço do nosso roteiro! lol Assim não se têm de preocupar com quase nada. Os miudos são fixes e, como nós não nos importamos de ser mães deles, a coisa funciona ;)
Depois de um pequeno almoco requintado, no café do nosso hostel, passámos a manhã a visitar a Aya Sofya, uma das mesquitas mais importantes de Istambul e a Blue Mosque (Mesquita Azul), o testemunho mais procurado e melhor preservado da cidade.
A Aya Sofya não me impressionou muito, tal como o Topkapi Palace, que visitámos ontem, acho que ambos os edificios e respectivas envolventes têm a sua presença e monumentalidade mas, há qualquer coisa que falha, talvez o restauro e a limpeza permanente das fachadas.
No que diz respeito à Mesquita Azul, fiquei realmente impressionada, apesar de não ser, para mim, o tipo de construção de eleição, é realmente um testemunho histórico com muita qualidade, presença e com um significado muito particular, principalmente para esta cultura.
Observámos dentro da mesquita os locais a fazer as suas rezas e, até nós, turistas, tivemos que entrar descalços e com um lenco a cobrir o cabelo e os ombros. A zona das rezas e separada: mulheres e criancas de um lado e homens de outro. Na zona central é permitido estar-se sentado ou deitado (a dormir, a falar, a ler ou a observar a mesquita) desde que não se perturbe o próximo. Nas horas específicas de reza, quando se podem ouvir pelos altifalantes das mesquitas as vozes mores, é expressamente proibida qualquer presença não muçulmana dentro das mesquitas ou de outros edificios de culto.
Como o calor não nos dá 1 minuto de descanso, tivemos que fazer algumas pausas nos jardins e áreas verdes nas proximidades, onde pudémos encontrar um design caracteristico do islamismo. Muita topiária nos arbustos, herbáceas de todas as espécies e cores e muitas árvores adultas, tudo com formas geométricas, muito jogo de cores e, nos espacos sobrantes, os acessos pedonais.
Uma coisa importante que ainda não referi são as duas espécies de árvores que têm predominado em todos os paises por onde já passámos, à excepção da Islândia - Ailanthus altissima (uma arvore infestante em último grau) e Aesculus hippocastaneum (o falso castanheiro ou castanheiro da India) ambas existentes em Portugal. A maior diferença verifica-se em relação ao castanheiro da India que, no nosso pais, se vê muito menos do que na europa de leste, onde é a árvore mais usada, quer nos estacionamentos, quer nos jardins ou em redor de edificios com estatuto patrimonial.
Com a temperatura sempre a subir, tivemos uma tarde como a de ontem, pouco produtiva mas, por volta das 18h voltámos a carga :)) Visitámos mais algumas mesquitas e andámos na zona do Grand Bazaar, um edificio com aproximadamente 4500 bancas, onde se pode comprar de tudo (desde roupa, passando por souvenirs e, acabando em alimentos e especiarias).
O jantar foi no restaurante Malkoc Uncu, mesmo ao pé do nosso hostel. Definitivamento é o place com a melhor música! Assim pudémos sentir-nos quase turcas, tratadas como umas verdadeiras princesas, num ambiente muito particular e dificil de esquecer! A comida foi excelente, assim como o atendimento, até nos ofereceram um pregador contra o mau-olhado para nos dar sorte e nos proteger durante o resto da viagem.
Aqui, a malta nova farta-se de trabalhar. Num restaurante ou bar, sem darmos por isso, temos 3 ou 4 rapazes muito gentis de volta de nós. Se quisermos ir embora, vêm com ofertas de chás ou pão para não os abandonarmos.
Fiquei regalada com o meu Kebab Turco de vegetais e, a Vera, com a sua Pizza Turca de Vegetais :)) Bebemos uns copos valentes, para variar e, acabámos a noite no bar do nosso hostel com mais um copo :)
OPS... estamos outra vez quentinhas mas, por uma boa causa e num sitio peculiar como este. Com este ambiente descontraído, de férias e com a temperatura sempre a subir, a malta deixa-se levar. Há que tentar esquecer certos pormenores que nos fartamos de pensar quando viajamos duas GAIJAS sózinhas 7 semanas!! Ainda mais quando os putos irlandeses, que estão connosco no quarto, fazem questão de dormir de cuecas com um corpo de cortar a respiração.
ESTÁ-SE BEM EM ISTAMBUL!!
Até agora foi a cidade onde me senti mais segura e onde a cultura e os hábitos me fizeram levitar. Sim!! Sinto um cheirinho a Ásia... Não o posso negar! Adoro tudo o que fuja dos costumes e modo de vida europeus. Sinto-me como peixe na água ;)
Dia 28- 11 Julho 2007
Durante a noite passada não conseguimos pregar olho. Como se não bastasse o habitual barulho das máquinas que fazem a limpeza das ruas, tivemos o prazer que presenciar a demolição de um prédio. Durante toda a noite o barrulho permaneceu e, por um triz, não ficámos todos surdos. Quem me dera que os bares estivessem abertos toda a noite, assim como assim, a música turca embala muito mais o sono do que o barulho daquelas máquinas de partir ruas e destruir prédios!
Segundo azar: depois de a minha irmã ter acabado um valente duche, e de eu ter começado, a água deixou de ter pressão, mesmo assim, considero-me com sorte por ter conseguido tirar o champô e o gel de banho com um fio de água gelada porque, mais tarde, vim a saber que a água foi cortada em Istambul e não sabem se nos próximos dias já estará operacional. Segundo os rapazes da recepção do nosso hostel, é frequente haver avarias na rede e as reparações demoram sempre mais tempo do que o esperado.
Por volta das 10:30h, fizemos o check-out e fomos tomar o pequeno almoco incluido no preço da nossa estadia. É impressionante a quantidade de gatos que há nesta cidade! Não deve haver uma gata esterilizada nem um gato castrado. Menos mau é constatar que todas as pessoas tratam deles, que são dóceis e, que todos, ou quase todos, têm um aspecto saudável. Hoje, enquanto tomávamos o pequeno-almoco, tivemos o prazer de ter um gatinho bebé mesmo aos nossos pés a suplicar por comida. A Vera, como não quis a gema do ovo (no menú tivemos direito a um ovo cozido, tomate, pepino, queijo, doce, manteiga, pão e um copo de café ou de chá), tratou logo de a dar ao gatinho que a comeu num segundo, por sinal, bastante nutritiva.
Apesar de se estar bem à sombra, tivemos de partir em direcção ao Grand Bazaar e não pensar no calor abrasador que está entre as 11h e as 17h. Hoje é o nosso último dia na Turquia e, por isso, quisemos visitar, com calma, o maior mercado de Istambul. Para meu espanto, o artesanato não é nada de especial. Ía preparada para fazer um esforço enorme, já que não tenho espaço na mochila e só estou a meio da viagem. Já a Vera, perdeu-se completamente pelos fios, colares, aneis, ou seja, por todas as bijuterias de prata com pedras semi-preciosas :)
Como os vendedores são chatos que nem um raio, e só no mercado perguntaram-nos mais de 20 vezes - where are you from? Españuelas?, passou-nos logo a vontade de comprar o que quer que fosse! Não há dúvida que é o sítio ideal para enfeirar mas, eu só conseguia fixar os turcos de pele escura e as cores garridas das loiças e dos tecidos que eles tinhas expostos para vender. Estava quase a dar-me uma quebra quando decidimos sair e comprar apenas uns marcadores de livros, umas carteiras e uma pedra contra mau-olhado.
Para mim, as lojas que se encontram nas ruas têm a mesma qualidade e conseguem ser mais baratas do que no bazar, com excepção de uma ou outra onde as coisas que vendem não são tipicamente turcas. Nessas lojas, com ar condicionado, os produtos que vendem, são de muito boa qualidade e, numa delas perdi-me no meio de tantas sandálias (tipo de hippies). Fartei-me de olhar e de perguntar, e depois disso, constatei que os precos que eles pedem por um par de sandálias originais ronda os 50 ou 60 euros, valor que tenho disponível para gastar em 2 dias de viagem. Vim pouco chateada, afinal tenho sandálias para dar e para vender :)
A tarde passámo-la numa esplanada, como todas as pessoas normais e, quando o calor acalmou, fomos até à zona do rio e atravessámos, a pé, para o lado oriental da cidade. Alguma vez eu me podia ir embora sem passar para a outra margem?
O panorama é um pouco diferente. Não é conveniente andar-se sem lenço e, os turistas, já não se vêm com tanta frequência. Apesar de tudo gostei! Penso que a chave está em as pessoas conhecerem a cultura e respeitarem-na, se levarmos as coisas com descontração, se não tivermos reacções muito diferentes das deles e se não mostrarmos afectos, eles não se metem muito connosco e nós andamos à vontade.
Depois de mais umas centenas de fotografias tiradas, despedimo-nos da malta da nossa rua. Sim! mesmo que não quiséssemos, fizemos muitos amigos e, os turcos em particular, foram todos muito prestáveis e respeitosos. Temos pena mas, se quisermos cumprir o resto do itinerário, temos que seguir em frente! E esse e o nosso objectivo!
Ao jantar, no restaurante Doy Doy, outra prova na gastronomia turca, Urfa Kebab com iogurte, desta vez with spicy :)
Para digerir toda esta maravilhosa mas indegesta comida, caminhámos até à estação dos comboios onde gastámos os últimos trocos em pão turco e sorvete para comermos durante a viagem até Sofia, na Bulgária ;)
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2 comentários:
Tarda nada acabam a viagem e dos meus postais ainda não chegou nem um. :)
Oh amigo, manda a tua morada para o telemovel 96 da Vera (o preco e o mesmo que mandares um SMS para Portugal).Os teus desejos sao ordens e nao queremos que te falte nada. Obrigada pelo apoio que tem sido muito especial.
Bjs Ana e Vera
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